Quando somos crianças, transcendemos toda e qualquer diferença. A menos, é claro, que os adultos nos ensinem que alguma coisa ou alguém deve ser temido e evitado, como fizeram os nazistas na Alemanha de Hitler, ensinando (hipnotizando?) o povo alemão a incutir na mente de suas crianças que judeus, ciganos, homossexuais e outros grupos minoritários deveriam ser "odiados". Se ninguém nos ensinar a odiar quem é diferente, nosso coração de criança estará acima de qualquer diferença. Tudo é encanto, magia, acolhimento e aceitação. Mas o mundo, infelizmente, ainda é governado por adultos que não realizaram o Reino de Deus no coração, especialmente os religiosos: eles ensinam que a diferença é ruim e deve ser temida e evitada.
O homem é evangélico cristão da linha protestante. E deve ser muito protestante mesmo, porque quase me agrediu quando, em culto na igreja onde fui pastor, agradeci a Deus pela história e existência da Igreja Católica Apostólica Romana. O homem ficou furioso. E ele deve estar protestando até hoje, muito possivelmente sem saber a causa dentro de seu coração que ama a diferença religiosa alimentada por um ego pequeno e mesquinho. Disse este homem: "Se algum filho meu casar-se com um católico, não vou à igreja!". Pois bem, querido irmão. Hoje sua filha caçula está noiva de um católico. Deus sabe o que faz, quando faz e porque faz.
O Pai das Luzes, o Deus Criador de todas as coisas, formou do pó da terra o Homem à sua imagem e semelhança. Quando o homem deixou o estado de inocência, simbolizado por sua livre fruição da árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, esse mesmo Homem começou a sentir que a integração cósmica com o Pai havia se perdido: em desespero, tentou a construção de uma torre que chegasse aos céus, na vã esperança de buscar a presença de Deus fora, quando ela só é encontrada dentro. O Pai das Luzes, então, disse:
"Um só povo, uma só língua...pois bem, isso é só o começo. Imaginem o que vão inventar depois! Vamos descer e causar uma confusão de palavras, de modo que um não consiga entender o outro." (Gênesis 11.6-8, A Mensagem, de Eugene Peterson)
Haveremos de pensar: havia a unidade, e Deus soprou a desarmonia? Não. Muito provável é que falando línguas diferentes, os homens teriam que esforçar-se por compreender uns aos outros. Esforçarem-se por aceitar um ao outro. Além disso, o motivo mais evidente, o verdadeiro recado de Deus, ao confundir as línguas: o Homem não teria seu encontro com Deus nas realizações externas, e sim dentro do coração.
A partir de então, desde tempos imemoriais, a humanidade torna-se gregária e sectarista. Cada é atraído pelo grupo que lhe tem ideias mais afins. Assim é e assim será por muito tempo ainda. Contudo, as grandes almas, os espíritos mais elevados, enxergam antes o que há de comum no coração humano e, a partir daí, conseguem transpor a barreira da cultura e, muito especialmente, da religião. Entram na dimensão da aceitação do próximo como ele é, e amam o ser humano, independentemente da cultura ou religião. Mas esses, ainda, são poucos. A maioria das pessoas no planeta ainda pensa que as diferenças exteriores, culturais e religiosas, são motivo de medo e afastamento.
Não é assim, contudo, com a criança. A criança abraça o branco ou o negro, o pobre ou o rico, o religioso ou o ateu, o heterossexual ou o homossexual, pura e simplesmente porque seu coração ainda está livre dos condicionamentos doentes que o mundo adulto irá lhe impor. Pouco a pouco, a criança vai aprendendo a não amar e, por isso mesmo, a temer e evitar uma pessoa diferente. Dentro de sua alma, conforme seu corpo cresce e sua mente se desenvolve, vão nascendo e sendo regados pela cultura toda a sorte de ervas daninhas de preconceitos que fortalecerão o engano do seu ego através do julgamento daquele que é diferente dela como algo ruim. Mas existe uma saída. Uma única saída: continuar com a cabeça de Homem, mas deixar o coração tornar-se o de um menino. Nas palavras do Divino Mestre, o Cristo:
"O Reino de Deus é para quem o recebe com um coração de criança" (Jesus Cristo)
Amar e acolher aquele que é diferente. Uma atitude iluminada, que apenas o coração daquele que voltou a ser criança na alma consegue ter.
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